29/07/13

Alado


Reparei que os filhos trazem coladas, talvez desde crianças, umas asas incolores. Digo isto porque eu não as vejo, mas existem na certa.
Um dia eles aprendem a voar, e partem, saem do ninho que lhes construímos e mimámos, mas partem...
E eu fico a pensar nas tais asas, que nunca vi, mas que sei existirem.
Como voariam sem a sua ajuda?
E devem ser grandes, agora, poderosas, do tamanho do seu crescimento!
E hoje, o meu filho voltou a voar, porque este ninho, este aconchego, é temporário, já é nómada nele.
Voou rápido, porque em segundos, deixei de o avistar, mas também em segundos, o vazio instalou-se em mim, e no ninho que lhe criei.
E sinto cá dentro uma ferida, que só eu sei que existe, que me dói. Também sei que esta ferida vai fechando lentamente, porque o vi voar seguro e feliz.
Já tentei fotografar essas asas, mas encontram-se dentro dele, e só se abrem na altura certa, no momento da despedida, do adeus, do até breve.
E eu fiquei a vê-lo, ao longe, já um pontinho... mas asseguro-vos, era o meu filho, era ele que voava...

maria eduarda

2 comentários:

  1. Eduarda, reconheço-me nas suas palavras: sou mãe, tb um dia, não muito longínquo, vi o meu filho partir...

    e recolhi dentro de mim sentires de perda, porque, e isso é, no absoluto, o que importa, ele está feliz, está bem. e, estando bem, estarei eu, de modo igual.


    um prazer lê-la
    obrigada
    Mel

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  2. Mel,

    Assim é. Doloroso, mas inevitável, a partida dos filhos.
    Um beijinho.

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