25/04/13

A verdade



A verdade
escorrega
pela pele.
O poro
selou-lhe
a entrada,
porque
há verdades
que só podem
deslizar,
não devem
o coração,
desfragmentar.

maria eduarda

24/04/13

Na incerteza


Na incerteza
do tempo que passa
e trespassa
este vendaval 
de emoções,
solta a vida,
preenche-a
de beijos,
liberta-te!

maria eduarda

23/04/13

Esperança



À espera 
do brilho
no olhar,
enquanto os olhos
revelam mil cansaços
do percurso
na escuridão.
Um dia, 
brilharão,
olhos lavados
em límpida água
filtrada 
na claridade
da luz.

maria eduarda

21/04/13

Tentação


Carnaval Huambo 2013

No desejo
de lá ir,
fico quieta,
na espera,
nesta quietude,
impaciente,
frustrante,
de não saber
por que voltar,
por que aspirar
ao colo primeiro,
ao lugar cimeiro,
a esta tentação.

maria eduarda

19/04/13

Viragem



Viraste a página
do descontentamento,
ampliaste o sorriso
do deslumbramento.
Por isso, voltei incólume,
de carapaça vestida,
assim, receosa, grotesca,
na minha nudez disfarçada,
fora do alcance
da palavra disparada,
ofensiva, repassada.
Espero assim,
que não atinjas o alvo
ocultado agora, a salvo
por mim, pela vontade
de resguardar o nu
dos encantos, da entrega,
do universo primeiro
da paixão, do ser um só
na aventura, na loucura,
na aparência que cega,
quando o teu paradeiro
era sempre cimeiro,
na minha procura.

Não esqueças quem fomos,
quando nós éramos o mundo,
uma metade do outro,
um eterno deslumbramento,
um sentir em complemento.

maria eduarda

18/04/13

Firmeza


De longe,
de muito longe,
diz-me a razão
dos tropeços,
na ausência 
do teu chão.

Ouso reerguer-me,
na certeza
desta fraqueza,
enleio de mim
até ao fim.

maria eduarda

17/04/13

Trapaceira


Na praceta da aldeia,
um banco de cada cor,
e em cada cor a estreia,
de um velho sem ardor.

Haja ou não luz solar,
lentamente, sem favor,
leva-o intenção de falar,
ato que o imbui de calor.

Está à espera da vida,
que esta o surpreenda.
Hoje, a mesma, atrevida,
quis deixar uma oferenda,

passou, e olhou de soslaio,
troçando dele, zombeteira,
levou-o consigo em ensaio.
Iludiu-o, a matreira!

maria eduarda

13/04/13

A partida

Carnaval Huambo 2013

Cartas guardadas, de outrora,
amarelecidas na gaveta,
num elástico apertadas.
Missivas não rasgadas,
lembranças de uma outra hora,
de um recanto trazido na maleta,
em viagem morosa, de poucas risadas,
vazia na vontade de gargalhadas.

Mudança radical, transferida,
para lugar distante, desconhecido.
Tempo de partida, de desistir:
da casa, da rua, do resistir.
Deixar o conforto, a partilha consentida,
voar é preciso, de coração contido.
Anos, mais anos, num crescendo devir,
acumula-se o desejo de lá ir.

Voltar ao princípio, ao sabor, ao cheiro,
deixado para trás, com receio,
de não se ajustar ao aparecido,
ao novo mundo, então surgido.
Assim é, aquele lugar inteiro,
guardado, aconchegado, em devaneio.
Regressar um dia,num tempo ido,
que transitou do papel amarelecido.

Hoje, volvidos anos, mais saberes,
escrevo outras cartas, sem dor,
a aceitação quiçá resolvida.
A infância, a adolescência,transmitida
aos que me trazem outros viveres.
Missivas estas, cheias de calor,
buscando, não uma gaveta colorida,
mas o partilhar de uma vida.

maria eduarda

11/04/13

Do mar - pensamento I


Se ao mar bradar as incúrias, ele leva-me na onda dos murmúrios, tão meus! 

maria eduarda

Terra natal


Este é o chão que piso.
O lugar, outro,
que aspiro,
um dia chegar a estar!
Calor envolvente,
local distante,
presente, em mente.
Vitórias, derrotas,
longe vividas.
O eterno, o final,
por lá, outonal,
fim ou recomeço,
do amor autêntico
à terra natal.

maria eduarda

A música


"Allez, venez et entrez dans la danse."

10/04/13

A entrega


Abri-te a porta,
e tu levaste-me
a navegar
a favor da maré.
Confusão de sentidos,
em uníssono disparo
no mesmo alvo.
Enclausurada
no teu abrigo
repleto de luz,
percorremos juntos
o caminho,
sem perguntas,
porque as respostas
já as assimilámos
nos nossos sentires.

maria eduarda

09/04/13

Reagir

Há intervalos na vida
onde nada acontece,
e a força estremece.
Mas, reajo,
reaprendo a ver,
elevo o olhar,
e reparo por ti,
na persistência,
às vezes débil,
mas insistente,
neste caminhar.

maria eduarda

06/04/13

Acreditar


Ver-se ao espelho amiúde,
olhar nos olhos, os sonhos,
tentar que o gesto não mude,
manter os lábios risonhos.

Fixar no reflexo a imagem,
de alguém que se desdobra,
numa outra personagem,
cuja coragem recobra.

Avançar nesta conquista,
acreditar em cada passo,
no troféu bem realista,
alcançado sem fracasso.

maria eduarda

04/04/13

Saber-te




Abrir a porta do teu eu , é permitir que saibam de ti o que deixas perceber, e que pressintam que, às vezes, tu próprio procuras respostas, numa nesga do entendimento de alguém, que se perfila em ti.

maria eduarda

03/04/13

Alento


As águas
do meu desassossego
desaguam nos teus olhos.
No teu olhar fluem,
e voltam a mim
na limpidez
do meu serenar.

maria eduarda

01/04/13

Em loucura


Tenho a saia a condizer
com a vontade de sair,
de me evadir,
de me desfazer
da blusa escura,
do sapato obtuso,
da vontade de não ir.
E vou...
nos passos vagarosos,
inalo o ar quente,
quebro o cansaço,
retomo o ausente.
Regresso,
mudo de saia
e de vontade,
e permaneço,
na roupagem adequada,
na pele que me mereço,
da miragem...
Enlouqueço!

maria eduarda