31/05/13

Sensatez

Chegada a altura,
parte sem passos,
voa sem asas,
mas relembra
sem dores.
Cresce na mudança,
amacia o silêncio,
e fala baixinho,
pausadamente,
para que as aves
 levem o sonho
em direção ao Sul.

maria eduarda

30/05/13

Na demora



Atravessas a linha dos afagos,
cansas-te de abrir lacunas
onde só o amor descansa
na largura do teu ombro.
Mais e mais, retiras do tempo,
os minutos tardios,
que não preencheste de tédio,
qual amor idolatrado,
adiado em questões,
parado na antecâmara
do teu leve sorriso.

maria eduarda

Da perdição - pensamento III


Não sei se te perdeste, ou se fui eu que não me perdi, porque te segui.

maria eduarda

24/05/13

Confusão (em mim)


Quero ter todas as cores,
simples, combinadas, misturadas,
tonalidades em mim erradas,
quando não assimilo os odores.
Nos dias cinzentos quero ser ave,
revoltar-me contra o momento,
exasperar-me num tormento,
alinhar-me em semblante suave.
Em dias de ansiedade,
deslizo nos contornos suaves
de uma qualquer vontade,
capaz de me não colocar entraves.
E o objectivo desenhado,
insisto, resisto, vacilo,
na força, procuro alinhado
o meu ser, em completo asilo.

maria eduarda

15/05/13

Suspirando


Até para suspirar é preciso coordenar os sopros, até os cardíacos, porque em dias menos bons, até o coração padece. E se padece!
Vá-se lá saber a simpatia de um pobre coração, que nas suas batidas se vê a braços/a fluxos sanguíneos, com um sopro inusitado!

E agora, coração? Ressentes-te e entras em arritmia, ou finges que não é nada contigo, e dás-me descanso, como um relógio no seu tic tac sereno?

Deixa lá coração, para a próxima, quando suspirar, lembrar-me-ei de ti e, pausadamente, o meu suspiro será feito em dégradé. Pode ser, coração?


maria eduarda

13/05/13

Nudez




Levanto o véu da verdade,
colado ao do parecer,
para deixar de o ser.
Assim, 
só há uma cor,
a que trago vestida,
para quem quiser ver.
E, dessa cor faço lema,
mesmo nalgum dilema,
avanço, ergo a face,
realço a firmeza do gesto, 
nesta certeza
de viver assim vestida,
de cor, na emoção sentida.

maria eduarda

09/05/13

Viver




É saber que tenho amigos, alguns, não muitos, mas esses, leais, sempre;
É reconhecer, mais uma vez, que sem a família, longe ou perto, eu nunca seria feliz;
É dizer a todos que me conhecem, pouco ou muito,que estou sempre por perto;
É sentir prazer em estar por aqui, onde me vêem, onde vos vejo;
É comunicar com ternura, e receber de volta outro punhado de carinho, por vezes vindo de quem menos se espera;
É acordar todos os dias, olhar à volta e reparar na beleza da natureza, mesmo quando esta se apresenta mais agreste;
É sentir que vale a pena acordar e fruir a vida com paixão, como se tivesse nascido no momento;
É entregar-me ao prazer de viver hoje, como se só este momento existisse;
É precisar de todos, e saber que sempre há alguns que ouvem o chamamento;
É não querer chorar de tristeza, reter as lágrimas, guardá-las, para as espalhar nos momentos de alegria e paixão;
É resistir aos ventos adversos, rompê-los, de peito aberto e forte;
É estar por aqui e acolher os que me dizem:

"Hoje lembrei-me de ti!"

maria eduarda

01/05/13

Evadida



Viajo,
sem bagagem,
só eu.
Entram-me nos olhos,
imagens,daqui e dali,
e continuo,sem paragens.

No cansaço da travessia,
acordo do sonho,
e daqui e dali,
imagens reais,palpáveis,
relembram-me o sonho,
no sono.
Sem bagagem,sem bilhete,
só eu.

maria eduarda