28/09/13

Prisioneira



Os sapatos levam-me por aí,
mas hoje doem-me os pés.
Desculpa em mim, não saí,
prisioneira da força das marés.

Na concha continuo, neste cansaço
que me inunda, me envolve.
Abraça-me como o sargaço
que não descola, não se move.

Aprisionada, envolta em braços,
não quero espreitar lá fora.
A escuridão estreita os laços,
e quero aquiescer na demora.

Há dias que acordam assim,
sem apelo, sem vontade,
como algo desprovido ou afim,
que me tira toda a sanidade.

Talvez o sol me ilumine,
se hoje a luz me presentear,
ou a pouca vontade me fulmine,
de um não querer, um apartar.


Queria poder esbracejar.

maria eduarda

26/09/13

Por decifrar



A voz do mar
chamou mais cedo,
e no teu corpo
surgiram sinais
da maresia,
em areias brancas
projetadas no vidro
da tua moldura antiga.
E reclamo a voz
dos receosos paladares
nos sabores escolhidos,
em perfumes de jasmim
nas folhas do teu livro,
que ainda hoje decifro.

maria eduarda

23/09/13

No ventre



As pegadas
que marco
na passagem
deste chão,
desfazem-se
ao vento,
em grãos luzidios.
Caminham sem mim,
rumo ao Sul,
de onde parti.
Lá,
procuram irmãos,
de marcas passadas,
profundas, visíveis,
inolvidáveis.

maria eduarda 

21/09/13

À descoberta



Sobre a vida,
nada te direi;
sobre mim,
serás tu,
em olhares fixos,
que descobrirás
a minha verdade
sobre ti.

maria eduarda

20/09/13

Autêntica



Assim, como navegante
em águas revoltas,
ou águas serenas.
E remo sempre,
braço condizente
com a vontade aliciante
de, na água que flui,
me rever nela,
e concluir
que no meu reflexo,
sou o que sempre fui!


maria eduarda

15/09/13

Reatar



Rasgões no tempo
perdem-se ao luar,
filtram-se à luz
nos reencontros.
E nasce o sorriso
meio perdido,
por que longe,
desencontrado.
E a amizade
revê-se nos olho
que fitamos,
e lembra que agora
é o momento
de agarrar o abraço,
é o momento
de não poder
arrefecer o calor
que nos retoma.
E somos nós,
detentoras
do mesmo alento.

maria eduarda

07/09/13

O silêncio da palavra


Difícil ouvir-te
no silêncio.
Mudei de posição,
abri a janela,
entrou o frio
em murmúrio,
mas não a tua voz.
Volto ao princípio,
atenta me mantenho
e nada ouço.
Vigio o meu pensamento,
pronto em texto,
destrocado em palavras,
à espera,
em silêncio, do sinal,
afinal, da tua voz!

maria eduarda

06/09/13

Na penumbra

Serás tu,
a imagem exacerbada
da doce loucura?
Serei eu,
a suave presença
adiada?
Seremos,
na penumbra,
até quando?

maria eduarda

02/09/13

Vacilar



O abraço, o aconchego,
a melodia no ar
-momento volátil-
memórias.

O semáforo
ao longe muda de cor,
reagir ao verde,
ou indeciso,
aguardar
o intermitente?

maria eduarda

01/09/13

Silêncio




Vejo no teu sorriso,
a alegria incontida,
o abraço forte,
o elogio presente.
Agora suponho-te,
a pessoa cordial
que subtilmente
se afasta,
na marca da ausência,
na falta de sinais,
no vazio da palavra,
em alturas cruciais.

maria eduarda