28/06/13

Fragilidades


No sobressalto da espera,
mantém a lucidez,
aperta a ferida a abrir, 
e, nas dores resgatadas,
aguarda a tua vez.

Na hora do atropelo,
recoloca os senãos,
os óbvios,
os talvez.
Renega o iludido,
o mentido, o falso admitido,
a ilusão transmissora
de uma paz redutora.
Enfrenta a luta,
salta para a arena,
recomeça a disputa.

Então, dos talvez admitidos,
opera numa outra razão,
encara de vez a certeza,
a verdadeira crueza
da verdade primeira,
que te destrói a leveza,
te deixa prostrado no chão.
Espera que venha a razão,
que te alivie a dureza
de uma dor sem senão.

maria eduarda


24/06/13

Da derrota - pensamento VI


Se acaso aceitares a derrota, revoga a vida e lança-te na expectativa.

maria eduarda

Prosseguir é preciso



Não há degrau
que não me detenha,
e meditar preciso
na direção a seguir,
no propósito
de desnudar,
de desfragmentar,
degrau a degrau,
unidos num só patamar,
claro de luz,
no caminho
a desbravar.

maria eduarda

22/06/13

A indecisão



Vislumbra-se um ponto qualquer no Universo, algo que transformará o incerto de todos os dias. A poeira não assentou, os trilhos estão pouco marcados e será preciso uma acalmia para que se notem os caminhos já percorridos, conducentes ao alvo.
Muitas marcas se adivinham, de diferentes modos e tamanhos, até de feitios arrojados. Será preciso o doutoramento da vida para conseguir resolver o dilema? Seguir a marca mais ondeante, ou a mais usual, resultado do pisar contínuo?
O enigma reside na decisão a tomar. O tempo esvai-se lentamente, porquanto a luz natural se vai afastando para outros lados, ajudando no rumo de outras decisões. A sombra apodera-se do local e só os desenhos decalcados no solo não são suficientes para a resolução seguinte.

Os conselhos, às vezes são necessários, mas só ele, naquele momento, naquele corpo e naquele pensamento deverá insurgir-se contra as ideias confusas que o atormentam.
Nem sempre se reage na altura, há comportamentos que levam o seu tempo a crescer, a tomar forma, a serem entendidos.
Sentiu-se desconfortável, descontente, com tanta reflexão, mas o seu raciocínio dizia-lhe que, se a caminhada era até então feita assim, diariamente, apesar de tanta incerteza, seria urgente optar agora por uma nova direção?
Se o gesto repetido tem resultado no êxito dos seus deslumbramentos e ambições, deverá então reverter a situação - apagar os trilhos, esquecer o ponto, e recuar até ao tempo e ao espaço onde não era necessário refletir, - bastava aceitar.

maria eduarda

20/06/13

Na espera


Resta a hora tardia
onde nada aconteceu.
Resta o beijo por dar
no momento que é certo.
Resta o adeus
na hora marcada 
no teu relógio de pulso.
Resto eu,
em todas as horas
dos nossos relógios
parados no tempo.

maria eduarda

12/06/13

Da bravura - pensamento V



Se aos bravos a audácia estremecer, enche-se o chão de brechas vorazes, e sem chão, não há como lutar.

maria eduarda

10/06/13

Renegação


E a alma partiu,
rápida, ligeira,
em direção certeira.
Mas, refletiu,
impeliu-a outro sabor,
e regressou
ao refúgio,
à reentrada
no corpo acolhedor!

maria eduarda

09/06/13

Alternativa




E há o grão,
a areia fina,
o caminho estreito,
que enfileira o chão.
E há o passo,
apressado ou não,
resoluto ou em vão.
E há a vontade
de pisar a razão
com o sapato apertado,
calçado agora,
a estrear a emoção.
E há o eu,
escolhido na sandália,
no respirar, na leveza
de tomar como certeza,
uma estranha decisão.

maria eduarda

Em análise



                                                    Leio-me amiúde,
nem sempre me agrada a leitura
que de mim faço
e, na falta de alaúde,
retiro-me letras,
suprimo-me expressões,
acrescento-me interrogações.
E releio o parágrafo do dia,
na folha já reciclada,
que reclama ser melhorada.
Aliso-a,
preencho-a de imagens,
multicores, abstratas,
plurais e ambíguas,
difíceis de decifrar
em dias normais,
de cansaços matinais,
de forças exíguas.

maria eduarda

Controverso


Esquálida miragem
bem perto de ti,
onde as águas revoltas
engolem traços,
esboços em viagem,
de quando parti.
Às voltas submergem
em onda perfeita,
cansaços desfeitos.

maria eduarda

07/06/13

Palavras que canto

Saem aos soluços,
palavras que canto,
me preenchem,
me aguilhotinam,
sedentas de liberdade,
de, no sopro
se soltarem,
e livres voarem.

maria eduarda

06/06/13

Sonhos meus

Tantos dos meus sonhos
são desejos incontidos,
de abraços renovados,
nos rostos risonhos,
traços quase esquecidos
nas memórias aturdidas
de vidas acontecidas.

maria eduarda

02/06/13

Da noite - pensamento IV


Se à noite eu repousar, infiro horas nas manhãs conturbadas.

maria eduarda

Por ti


Não deixarei que te pisem,
quando o aconchego for nulo.
Deixo-te só, liberto,
para escolheres, nas pegadas,
o caminho predileto
para o colo encoberto.

maria eduarda