31/10/13

Insomnia resoluta


Horas na insónia
são dias erguidos sem dó,
são passagens sem chão,
são abandono sem lugar,
são assim,
como velas que ardem devagar
e não iluminam a noite
por que são decepadas de luz.
Nas voltas dos entre sonos,
imagens dos dias claros,
de acordados risos
com entrelaçados suspiros.
Nas agonias noturnas
vigia-se a esperança,
espreitam-se os vagares
de noites sem voltas,
sem tormentas,
de dias afins.
Acorda-se na pálpebra já aberta,
na pouca vontade
de, acordando,
voltar ao dia,
e nos dormires sucessivos,
noites brancas,
nos olhos cansados de ver...

maria eduarda

26/10/13

O beijo



O beijo paira no ar
perdido, cambaleante,
aguarda o alvo,
esperado, marcante.
Entrega-se, envolve-se
em total abnegação,
no sentir, na emoção,
na completa retribuição.
E os sentires despertam,
embriagam, extasiam,
revolvem, amordaçam,
num completo delírio.
E, no beijar deste modo,
declaram-se as palavras
que são ditas em atropelo,
neste beijo de desvelo.

maria eduarda

21/10/13

Existes



Não me despeço de ti, estás na brisa que vem de mansinho e me refresca a memória e o olhar. Dir-te-ei adeus, em dia parado de vontade, de fala e de aragem, que não te leva o meu dizer, quando nada mais houver para partilhar.

maria eduarda

15/10/13

Libertação


Amanhã,
no azul do dia,
no canto da ave,
no bater das asas,
saio sem mim.
Volto mais tarde,
evadida sem lugar,
colo-me inteira
à nudez do tempo,
à sombra da noite,
à escuridão consentida.

Vou sem mim,
nos dias em que não estou.

maria eduarda

12/10/13

Desencontros




Venho de longe,
deixei o sorriso escarlate,
na acácia ao rubro,
ao fundo do meu quintal.
Vesti um outro sorriso,
decalcado do primeiro,
não me deixa, não o deixo,
até ao dia esperado,
quando o resgatar,
e sorrir então inteira
no sonho de lá estar.

maria eduarda

09/10/13

Avaliar



Coladas
a estas palavras,
estão outras,
que não ouso escrever,
ou porque
as quero manter
na sombra,
ou porque
desfigurariam
a luminosidade
do meu deleitar.
Assim as quero,
controladas,
na memória
mais sombria

dos meus dias.

maria eduarda

05/10/13

Opção


Parti a tampa do frasco de vidro, estilhaçada em mil cacos de esperança, raiada de verde. 
Do chão, varri-os para fora de mim. Optei pela garrafa branca, destapada de outra cor, na brancura opaca da paz, por desvendar.

maria eduarda

03/10/13

Pertencer




Afasto as areias
que encontro no caminho,
devagar, de mansinho.
Vou precisar delas
na minha vinda,
que enfileiradas
me indiquem,
onde colocar o passo,
e convictas,
me marquem o lugar,
onde o meu ser tem espaço.

maria eduarda