Reparei que os filhos trazem coladas, talvez desde crianças, umas asas
incolores. Digo isto porque eu não as vejo, mas existem na certa.
Um dia eles aprendem a voar, e partem, saem do ninho que lhes
construímos e mimámos, mas partem...
E eu fico a pensar nas tais asas, que nunca vi, mas que sei existirem.
Como voariam sem a sua ajuda?
E devem ser grandes, agora, poderosas, do tamanho do seu crescimento!
E hoje, o meu filho voltou a voar, porque este ninho, este aconchego,
é temporário, já é nómada nele.
Voou rápido, porque em segundos, deixei de o avistar, mas também em
segundos, o vazio instalou-se em mim, e no ninho que lhe criei.
E sinto cá dentro uma ferida, que só eu sei que existe, que me dói.
Também sei que esta ferida vai fechando lentamente, porque o vi voar seguro e
feliz.
Já tentei fotografar essas asas, mas encontram-se dentro dele, e só se
abrem na altura certa, no momento da despedida, do adeus, do até breve.
E eu fiquei a vê-lo, ao longe, já um pontinho... mas asseguro-vos, era
o meu filho, era ele que voava...
maria eduarda