31/07/13

Inquietude


Atirei-me ao mar,
levei as frustrações,
e algumas desilusões.
Nadei em ocasiões,
noutras, confiei
em certas ondulações.
Por fim avistei
a ilha esquecida,
onde náufraga me achei,
em vida, à deriva.
Mas, na paisagem
assim, em desmazelo,
estavas tu, na aragem,
na cor, no cheiro,
no ser em mim, no zelo.
Despi-me de inquietações,
afaguei-me nos teus braços,
ramos abertos que se estreitam,
me enlaçam e me beijam
me sufocam de abraços.

maria eduarda

30/07/13

Poema ao filho



Quisera eu embalar-te,
esperar que adormecesses,
e olhar-te sereno, nos meus braços.
Quisera eu, ouvir-te dizer Mãe,
quando te sentias assustado,
e me estendias a mão.
Quisera eu, apertar-te no colo,
acalmar-te e cobrir-te de beijos,
para então sossegares.
Quisera eu, fazer-te caretas,
e ouvir as tuas risadas,
de tanta alegria sentida.
Mas não!
Tu cresceste!E eu, às vezes, não vejo!
Tu traças o teu caminho, diferente,
e eu, às vezes, inquieto-me!
Tu estás diferente do menino,
e eu, tento reparar!
Às vezes, é mais difícil aceitar,
mas preciso dar-te espaço.
Sabes filho, nos teus sonhos,
hoje e sempre,
Estou lá eu,
o embalo e o aconchego!

maria eduarda

29/07/13

Alado


Reparei que os filhos trazem coladas, talvez desde crianças, umas asas incolores. Digo isto porque eu não as vejo, mas existem na certa.
Um dia eles aprendem a voar, e partem, saem do ninho que lhes construímos e mimámos, mas partem...
E eu fico a pensar nas tais asas, que nunca vi, mas que sei existirem.
Como voariam sem a sua ajuda?
E devem ser grandes, agora, poderosas, do tamanho do seu crescimento!
E hoje, o meu filho voltou a voar, porque este ninho, este aconchego, é temporário, já é nómada nele.
Voou rápido, porque em segundos, deixei de o avistar, mas também em segundos, o vazio instalou-se em mim, e no ninho que lhe criei.
E sinto cá dentro uma ferida, que só eu sei que existe, que me dói. Também sei que esta ferida vai fechando lentamente, porque o vi voar seguro e feliz.
Já tentei fotografar essas asas, mas encontram-se dentro dele, e só se abrem na altura certa, no momento da despedida, do adeus, do até breve.
E eu fiquei a vê-lo, ao longe, já um pontinho... mas asseguro-vos, era o meu filho, era ele que voava...

maria eduarda

Reerguer


Não acendas a luz!
Deixa-me estar na penumbra,
no tempo que se anuncia
quieto, vagaroso, cauteloso.

Faz o movimento que seduz,
entra silencioso e relembra,
que a altura não se renuncia,
age, não se torne o gesto moroso.

Acende a luz, agora!
É tempo de me erguer,
de te escutar, de me ouvir,
de sair deste recanto.

Já chegaste, vens na hora,
o momento é de te ver!
Estou aqui, não vou sucumbir,
Tira-me deste quebranto!


maria eduarda

27/07/13

Ainda me falta



Ainda me falta
pisar o outro chão,
onde fiquei metade.

Ainda me falta
colar os cacos,
e ficar inteira.
Surgir assim genuína,
vaguear pela infância
e adolescência,
recordar...
Ser capaz de sorrir,
quando a despedida surgir.

Ainda me falta
preencher a alma africana
que tenho dentro de mim.

Ainda me falta
abraçar a terra e,
quando regressar,
não ter a ousadia
de olhar para trás.
Ainda me falta
deixar de ter falta,
mas,

Ainda me falta!

maria eduarda

26/07/13

A minha luz


Filha,
durante anos
fui a tua luz
sempre incidente,
que te guiava,
resplandecente.
Hoje és tu,
a luz, em mim,
quando te noto
feliz, sorridente.


maria eduarda

25/07/13

As minhas prendas


 Já estão noutra dimensão, e assim se afirmam!
Tenho-as desembrulhado com cuidado, com ternura, para que as prendas não percam as suas formas e cores, e no meu forte afeto, espero que sintam sempre , que para mim, são e serão o meu mais valioso presente!

Mãe

Do caminhar - pensamento XIII


Se eu tropeçar, inventa outro chão onde eu possa caminhar.

maria eduarda

24/07/13

Hino à vida



Saúdo-te
tempo de glória,
de regozijo.
Embala-me
sem demora,
devolve-me a paz,
hoje, agora.
E celebrarei
o presente,
neste tempo,
nesta aposta,
num hino à vida.

maria eduarda

23/07/13

Ambivalência




A nudez de um sorriso,
visto do lado de fora,
por dentro há a demora,
em transformá-lo no riso.

A vontade que insiste
em rasgar o coração,
em colocar a emoção
num lugar que lhe resiste.

O riso , a par da mágoa,
caminham nos mesmos pés,
trilham linhas de viés,
receiam beber igual água.

Mas, a vontade aparece,
abre ao mundo o seu querer,
assim como o dia amanhece,
o sorriso entra no ser.

maria eduarda

Interiorizar



Desço aos saltos os degraus do meu corpo, deixo pegadas no canto das ilusões, descalço os sapatos na curva das lamentações, os pés nus tocam a fragilidade da vida, e saio, consciente do patamar efémero, que me aguarda, de chinelos.

maria eduarda

21/07/13

Do padecer- pensamento XII



Se naufragares, recolho-te nas lágrimas do meu padecer.

maria eduarda

Retroceder



Buscamo-nos
lá atrás,
onde ficámos,
livres de opções,
até à partida
rigorosa.
Hoje,
milénios traçados,
voltamos
não à terra,
mas ao ser
que fomos
um dia.

maria eduarda

20/07/13

Sem chão




Mantenho-me
no meu equilíbrio,
em suspensão.
É inevitável
que me agarres,
me abraces,
e me coloques no chão.
Assim me mantenhas,
neste alinhar,
preso à tua mão,
que me ajudará
a seguir uma direção.

maria eduarda

14/07/13

Desvario


Amaciei a bainha
do meu colete verde,
para não atrapalhar
o cair da saia.
Vestida a preceito,
hesitei na encruzilhada
dos semáforos, ao longe.
Não parei, não afrouxei,
e na bainha dobrada,
amaciada,
esqueci o devaneio,
retrocedi.
Alcancei o degrau,
e de passagem,
mudei de roupagem,
releguei o verde
do meu colete,
para usar talvez
numa outra viagem,
com paragem.

maria eduarda

13/07/13

Fugacidades



Neste recanto enfeitado,
onde agora tu me aguardas
com quimeras de outrora,
em roupagens de agora,
vestida a preceito,
aguardo o sinal
da alucinação passada,
mergulhada na descoberta,
vivida, inventada, reinventada...
Éramos nós o tempo, a hora,
a entrega, o furor, o sonho!
Camadas de vidas agora, de momentos,
de outras roupas vestidas,
de olhares cúmplices, espelhados,
de linhas no rosto adquiridas!
É tempo de outro tempo,
que traz à memória
o fulgor da paixão,
nas vestes de Verão,
neste Inverno da história!

maria eduarda

09/07/13

Desencontro (A uma Doce Mãe)


Se a vires,
diz-lhe que invento
sítios onde a revejo,
episódios que reinvento,
linhas de rosto esbatidas,
do tempo de ampla visão.
Se a ouvires,
alberga as suas palavras,
memoriza-as tal e qual,
e trá-las até mim,
para que eu entenda,
a presença em ausência.
Se a abraçares,
repara na sua beleza,
no seu sorriso sereno,
na sua vontade de amar,
no seu quê de doçura,
na brandura do seu gesto.
E vem...

maria eduarda

02/07/13

Da luz - pensamento VII


Se em  réstias de luz me albergares no teu sorriso, abro-te a porta aos umbrais do riso.

maria eduarda